15.1.11

20 por 1

"Mudar, mudar, mudar", penso eu.
Pensar em mudança não vai mudar a vida.
Mudar a realidade não transformará o pensamento.
A transformação não vai transpor o real ao sonho.
Os sonhadores não mudarão a voz que grita.
Toda a agitação de gritos não calará a comoção de mudos.
Emudecemos diante da vida ilusória.
Imaginemos campos floridos em meio a choros fétidos.
Choros passivos, lacivos, agonizantes e irritantes.
Calem os gritos, chorem os mudos!
Transponhamos os sonhos infantis em realidade!
Transformemos a comoção em ação!
Paremos de gritar, de chorar!
Vamos mudar, pois os mudos comovem a ilusão e derramam a vida em batidas.

Delux

Gotas dentro e fora.
Fora e dentro há silêncio e um gotejar pulsante, não de água, mas de sangue.
Quando uma alma chora todo o fluxo sanguíneo se agita como um mar bravio. O corpo torna-se um bote perdido, afundando lentamente.
Nas águas negras e tempestuosas um espírito solitário clama por ajuda, implora salvação.
Desacreditar na vida e lançar-se ao mar parece a solução certa. O movimentar das águas torna-se o movimentar de almas sofredoras, gritantes. O sofrimento apenas começou.
Forma-se agora a luta contra a alucinação, contra a loucura, contra a imensidão sugadora da sanidade.
Padecer temporariamente entre as almas terrenas e esperançosas vale mais do que lançar-se às almas bravias e eternas.

14.1.11

Por que fazer da vida instantes de vida?
Por que viver completamente e de uma forma uniforme é tão difícil?
Talvez porque a uniformidade não seja um padrão agradável à própria vida. Ou talvez porque o homem não seja inteiriço uniforme, e sim mutável, não linear. É uma soma de traços, trajetos e trejeitos, que somados, o leva à via da vida de fato.
Querer viver em instantes é menos dolorido? Talvez.
Pensar na vida como um todo, como um roteiro completo nos leva aos instantes que juntos formam a vida em si. Mudanças constantes de humor e emoção levam aos instantes de vida. Isso é bom? Talvez. Se pensarmos numa vida linear e triste, ter instantes soa bem. Instantes de felicidade e esperança.
Somemos tudo e teremos um instante de vida. Somemos todos os instantes e teremos a morte.
Sou indiferente, depressiva, melancólica, um pouco triste, sonhadora, frustrada, angustiada...
Vivo em meio de pessoas realistas demais, sorridentes demais, normais demais, irritantes demais.
Cansei da falta de compreensão das pessoas, falta amor, calma, sentimento, pensamento, coração.
O ruim é excesso, o bom é escasso.
Prefiro viver na caverna, cultivar minha alma de poeta e molhar meus olhos de Sinatra do que partilhar minhas flores em solos ácidos, com animais mortos e podres estirados no chão.